A série Dark está entre as mais vistas nos últimos meses. O misto de drama, suspense e ficção científica, garantem o sucesso da trama. A sensação de que Dark não foi totalmente compreendida é o que gera por parte das pessoas ainda mais curiosidade.
A essência de Dark é a Teoria da Relatividade Geral, criada por Albert Einstein em 1915, que apresenta o conceito de que o espaço-tempo é algo maleável e que o passado, presente e futuro são uma coisa só. Na história, as viagens no tempo, o encontro de personagens com o seu Eu mais velho e até mesmo com os seus familiares e amigos em outro tempo e realidade, mostram isso.
Vídeo Relatividade Geral BBC:
O personagem Jonas na tentativa de barrar o loop eterno e ciclo de repetições, começa a fazer viagens entre tempos e mundos. O espectador em diversos momentos tem a sensação de confusão, mas nada que fuja do esperado, afinal, Dark é uma das séries mais complexas dos últimos tempos.
O que a complexidade de Dark tem a ver com o ambiente das organizações?
O primeiro ponto que precisamos destacar é a complexidade. Da mesma forma que os personagens se deparam com ciclos que se repetem e viagem entre mundos, se trazermos para o ambiente das organizações não é diferente.
Um dos maiores desafios atuais é encarar o futuro, tentar decifrá-lo. Será que é possível por meio dessa tentativa entender o que vai ocorrer no futuro?
O sociólogo Edgar Morin é convicto ao dizer que as certezas são ilusões e na busca incessante pela previsão do futuro, a humanidade esquece de compreender o presente no qual todos estão inseridos. E o mesmo ocorre com o ambiente organizacional.
As empresas almejam detectar fórmulas para manter-se ativas no futuro, mas o que de fato está ocorrendo no presente e qual o propósito dessas empresas hoje? Entender qual a identidade e o seu valor social são reflexões que, muitas vezes, são colocadas de lado e têm sido substituídas pela ansiedade de acompanhar o avanço tecnológico.
A série Dark, por meio de múltiplas linguagens, fala sobre o contexto da complexidade.
Cada pessoa pode interpretar por meio de diversas lentes, de acordo com o próprio repertório de experiências. E há um aspecto relacionado à metodologia que utilizamos para decifrar fenômenos no ambiente complexo organizacional, conhecido como Sensemaking.
O que está por trás de um fenômeno complexo?
O Sensemaking, ao invés de apresentar uma solução pronta e dizer o que está certo ou errado, observa o fenômeno, a interação de diferentes sistemas na empresa, e traz à tona essa realidade.
Ambiguidade – o que você vê individualmente, não é o mesmo que o outro vê, mas quando se troca informações, as pessoas passam a ver juntas, ocorre uma troca;
Domínios linguísticos – relacionados a interpretações que levam em conta o repertório de cada um, maneiras distintas de analisar um mesmo fenômeno;
Passado, presente e futuro não são lineares – é preciso se respaldar em repertório e ferramentas cognitivas para a interpretação;
Não há uma verdade – diferentes perspectivas vêm à tona para discussão, unificação e consenso coletivo do mesmo fenômeno;
O conhecimento é complexo – não existe uma teoria, uma única perspectiva, cada um interpreta de acordo com o seu repertório de experiências;
O ambiente complexo não tem ordem fixa – mas é influenciado e trabalha através de um sistema;
O contexto complexo inclui um sistema complexo – para entender esse sistema será preciso observá-lo e trazer essa pluralidade para uma discussão coletiva.
A falsa sensação de controle é testada
No universo, passado, presente e futuro se misturam e o livre arbítrio deve ser usado com sabedoria. Tentar alterar um fato passado no “presente” pode repeti-lo no futuro, como no caso de Jonas e do seu pai Michael.
Você como ser humano, universo particular também reúne passado, presente e futuro. Você toma decisões no presente com base em seus aprendizados adquiridos ao longo da vida e quanto ao futuro – é resultado das decisões que toma hoje.
Na Plano, antes de falar sobre o futuro trazemos à tona a incessante busca por compreender o presente. Compreender que estamos inundados por complexidades.
Uma mudança na empresa que não leva em consideração, por exemplo, o repertório da consultoria e também da organização dentro daquele propósito, pode gerar resultados altamente negativos.
Não há formulas a serem seguidas, mas fenômenos a observar
O sócio diretor da Plano, José Carlos Torquato, costuma provocar sobre o que consideramos ser uma área de domínio e ressalta que antes de nos respaldarmos naquilo que sabemos para alcançar uma falsa segurança, o ideal é ter consciência de que aquilo que desconhecemos e está fora de controle é muito maior.
Como lidar com o caos, o fim e a insegurança?
A famosa frase da série The Beginning is the End is the Beginning (O Começo é o Fim e o Fim é o Começo), também leva a muitas reflexões. Na vida, muitas trajetórias começam já com o seu fim determinado e o fim é o propulsor, em muitos casos, do caos que leva a um novo começo.
É preciso aceitar o fim de padrões que não funcionam mais. Não adianta a ilusão de colocar o antigo no novo. Isso significa que mudanças efetivas no ambiente complexo, seja nas organizações ou na própria vida, iniciam-se a partir do zero e do incerto.
E quanto ao caos? Os personagens expressavam o esforço e cansaço ao tentar compreender algo complexo que estava no ar da cidade Winden. Esse cenário caótico era o que levava ao desenrolar da história, que motivava as viagens no tempo e a tentativa de barrar acontecimentos e suas consequências.
Resistência à mudança
Outra reflexão foi gerada a partir do personagem Adam, que na história é Jonas. O encontro desses personagens é interessante, Jonas não acredita que com 66 anos tenha se tornado alguém tão frio.
Diferente de Jonas, Adam não deseja interromper o ciclo, deseja que Jonas se transforme nele, uma tentativa egoísta de resistir a algo maior que era a interrupção do ciclo em prol de uma “permanência no mundo”, sendo que dentro desse conceito espaço-tempo, estamos mortos e vivos dentro de uma possibilidade de realidade de quatro dimensões.
Alguns propósitos carregados por Jonas foram modificados em seu ‘Eu’ mais velho. Adam era como um antagonista de Jonas (de si mesmo), e nas organizações, a resistência e a oposição a mudanças são latentes não só por parte dos colaboradores, mas de gestores e diretores, principalmente.
Ser empurrado para uma transformação e de fato adentrar ‘agir’ nessa atmosfera com o coração aberto são pontos de conflito. Muitas vezes é preciso aceitar a resistência, entender sua origem e batalhar para que essa força atue como um propulsor.
As relações – como construir um cenário harmonioso?
Alguns encontros na série também mostraram como os dramas de relações mal resolvidas poderiam se perpetuar ao longo das jornadas no tempo, como o encontro de Katharina com sua mãe na terceira e última temporada da série ou os conflitos, que quando não resolvidos, se repetem em um loop eterno.
E quantas vezes o quesito relações e comunicação são deixados de lado no ambiente organizacional?
Dentro de um sistema que reúne humanos, existe a complexidade das relações, a linguagem subjetiva (individual e coletiva), em que predominará a ânsia de uma interação mais sensível e próxima do entendimento dessa realidade.
As relações no ambiente de trabalho, tal como na vida, são instrumentos de crescimento coletivo e individual.
Interações e choques necessários para que se amplie a visão e, a partir da divergência, ocorra também uma transformação a nível pessoal.
Dark é uma série que mostra claramente o quanto a tomada de decisões é inerente da condição humana.
Quem somos hoje é resultado de quem éramos ontem e é necessário resistir ao antagonismo interior para conseguir levar os nossos propósitos para o futuro.
O buraco negro representado pela caverna escura que levava às viagens no tempo representa uma importante simbologia.
As viagens só acontecem na caverna escura e quantas vezes é preciso que façamos viagens em nossa escuridão, em nosso Dark, para tentar nos barrar de decisões que podem afetar o nosso desenvolvimento daqui para o futuro?
Dark é sobre escuridão, é sobre complexidades, é sobre o mergulho nas trevas para encontrar uma saída que leve à iluminação interior.
Viva o Dark, aceite o complexo e permita se expandir para além dos limites da sua mente, espaço ou tempo.
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