No início deste ano, o case Americanas gerou grande repercussão nacional. Chegou a ser divulgada a lista com 7.720 credores oficiais e, ao todo, a dívida da empresa é de R$41,2 bilhões.
Em breve resumo, a Americanas veio a público admitindo inconsistência bilionária em seus resultados, até então uma dívida de R$20 bilhões, o que chocou clientes, instituições financeiras e agentes de mercado devido ao tamanho da dívida.
O que ocorria era que as dívidas não eram atribuídas a instituições financeiras, pois entravam como despesa com fornecedores, sendo assim, os resultados da empresa não eram comprometidos e aparentemente a companhia se mostrava equilibrada e saudável no mercado.
A grande repercussão em torno do case Americanas não foi exatamente sobre a operação, mas sobre os princípios de governança feridos com esse comportamento (ética, equidade, responsabilidade administrativa, senso de justiça e prestação de contas (accountability)).
Como consequência do escândalo, a empresa varejista foi excluída de 14 índices da Bolsa brasileira no último mês.
Recentemente no podcast Plano Talks, tivemos a participação de Renan Silva, professor de Economia do IBMEC e também gestor da empresa BLUEMETRIX Asset e do Danilo Maroja, contador da Plano Consultoria e CEO da Advance Contabilidade, para falar sobre esse assunto que tem gerado tantas discussões no ambiente corporativo.
Se não viu ainda, vale muito a pena assistir!
Governança Corporativa – grande distância entre ser e dizer que é
Esse escândalo infelizmente é um entre tantos outros no Brasil e no mundo, mas atualmente, as questões em torno de boas práticas de governança, reforçadas pelo conceito ESG (em português *meio ambiente, social e governança), não podem mais ser conduzidas como o cumprimento de mero protocolo.
Para o economista Renan Silva, o caso expõe não apenas fragilidades de governança na Americanas S.A., mas também evidencia alguns aspectos relacionados à legislação e economia brasileira.
O especialista lembra que o setor de varejo é extremamente sensível à renda e que no Brasil, já foram vivenciados sucessivos planos econômicos mal sucedidos, como uma inflação mediana elevadíssima, de uma taxa de juros alta e de impostos elevados, sendo assim, se for realizada uma análise de todas as empresas varejistas que já fecharam, fica evidente que o caso recente da Americanas não é algo novo.
“Existe uma necessidade de criar um ambiente mais favorável para os negócios no Brasil e quando se tem um ambiente muito hostil, algo que historicamente ocorre é que os players começam a procurar por soluções “mirabolantes” para tentar sobreviver. Obviamente que isso não justifica o ocorrido na Americanas, mas em muitos casos, pode indicar uma crise sistêmica”, alerta Silva.
Na Plano, transformamos organizações para serem sustentáveis
Atuamos no mercado das grandes corporações públicas e privadas há vinte anos e continuamente ajudamos empresas, por meio de um trabalho colaborativo, a revisitarem sua cultura, a repensarem o seu papel no mercado, a adotarem medidas de compliance para operar de acordo com a regulamentação, entre tantas ações fundamentais para que uma organização possa de fato ser sustentável no mercado.
Além disso, contamos com parcerias de grande importância para o Brasil, como é o caso da Rede Governança Brasil (RGB), em que junto ao órgão, atuamos no desenvolvimento de melhores práticas de governança de grande impacto social.
Outra atuação de destaque é o apoio às organizações na adequação às regras impostas pela LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), gerando segurança a todos os envolvidos e nos casos de atuação no setor governamental, impactando no relacionamento dos governos com os cidadãos.
Quando uma empresa apenas adota políticas sem uma revisão profunda em sua cultura, sem compreender de fato o porquê das ações, está apenas “dizendo que é” ao mercado e, hoje, mais do que nunca, a transparência é uma exigência e não se pode “forjá-la”, é preciso construir as bases para que possa emergir.
Práticas de governança precisam começar pela cultura organizacional
A falta de transparência foi o fator decisivo que levou a Americanas a chegar à situação em que está hoje, e foi o fator mais mencionado por especialistas, assim como a ausência de antecipação nas tomadas de decisões.
A gerência da empresa chegou a admitir que o saldo deficitário ocorria há pelo menos entre sete a nove anos, o que evidencia omissão por parte da gerência da empresa.
Outro grave erro foi quanto à categoria de despesas financeiras, que deve ser tratada de forma separada do lucro operacional, na Demonstração de Resultados do Exercício (DRE), e essas são informações essenciais para a compreensão do nível de endividamento e o grau de alavancagem financeira.
O case Americanas revelou inúmeras falhas desde a diretoria executiva até a atuação do conselho de administração e de outros órgãos de apoio, como conselhos fiscal e de auditoria.
Aliás, quanto ao conselho de administração, outro ponto que chamou a atenção foi como, com um conselho robusto, formado por sete integrantes (quatro representantes dos acionistas de referência e três independentes), não houve a devida supervisão e reporte de falhas logo no início do ocorrido?
O contador, Danilo Maroja Reis, acredita que uma governança sólida começa pela cultura organizacional, de maneira que possa engajar todas as pessoas a vivenciarem os propósitos definidos pela empresa:
“Não tem outra saída, é preciso fortalecer a cultura, as práticas de governança, para que todos os colaboradores compreendam que aquilo é real e não apenas algo que está no papel. E, além disso, acredito na fiscalização e punição mais rigorosa como um dos principais caminhos para garantir as práticas de governança e ESG”, complementa.
Fica evidente no case Americanas o quanto é fundamental que as organizações construam culturas saudáveis, que tenham lideranças capacitadas que atuem em um modelo de trabalho focado em geração de valor.
Vale tudo para ter uma empresa lucrativa, mesmo que à custa disso, relações sociais com todos os públicos relacionados à organização sejam abaladas e, em alguns casos, de maneira irreversível?
A reputação de uma organização é o ativo mais valioso que possui e quando não é priorizada, as consequências são inevitáveis e, na maioria dos casos, nunca mais será vista como antes.
Sua organização se sente segura quanto à própria cultura e atuação no mercado?
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